Revolução no mundo da moda: novas leis para evitar a promoção de ideais de beleza inacessíveis

Desde o início do mês que em França só desfilam modelos "saudáveis". O país aprovou uma lei para melhorar a saúde das modelos e fomentar uma beleza mais plural.

Tudo evolui. E ainda bem! Sobretudo quando a evolução é positiva, como é o caso.

Desde há muitos anos que a moda tem colocado sobre a mesa alguns temas que influenciam negativamente a sociedade. Problemas relacionados com a aparência, que têm impacto directo sobretudo nas camadas mais jovens, da qual fazem parte a maioria das profissionais do mundo da moda, que ainda não vincaram verdadeiramente a sua personalidade e se deixam influenciar pelos padrões estabelecidos, que na maioria das vezes não respeitam a realidade. Daí surgem os problemas. E problemas sérios.

Felizmente, neste mês de Maio, um dos países de referência do mundo da Moda deu um passo à frente no combate à "promoção de ideais de beleza inacessíveis" e, desde o início do mês, nas passarelas francesas só desfilam modelos com atestado médico.

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Pronovias Foto: Pronovias

Estereótipos muito cruéis

A sociedade sempre considerou as modelos como exemplos de mulheres perfeitas, pelo que estas profissionais têm vindo a representar os cânones de beleza estabelecidos, enquanto mostram as peças dos grandes estilistas. Por isso, muitas jovens sentem-se obrigadas a assumir  determinados comportamentos, sobretudo em idades tão difíceis como a adolescência, caindo em distúrbios e patologias como a anorexia, a bulimia e certas obsessões para encontrar a figura "perfeita" que satisfaça o colectivo.

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Kate Moss gerou polémica em 2009 ao eleger como um dos seus lemas "nada sabe tão bem como estar magra", sendo acusada de promover a anorexia | Foto via Pinterest

Mudanças em 2017

2017 parece ser o ano da esperança. Há dois anos, o parlamento francês aprovou uma lei que obrigava as modelos que quisessem pisar as passarelas daquele país a entregar um atestado médico que confirmasse que estavam suficientemente saudáveis para trabalhar. O projeto de Lei de Saúde, redigido pelo ex-deputado socialista Olivier Verán, proibia, assim, as agências de contratar modelos excessivamente magras.

Estas disposições legais tornaram-se agora oficiais, desde o início deste mês, com publicação em Diário da República. Isto quer dizer que as modelos deverão, agora, apresentar um certificado médico que não indique nenhum tipo de mal físico, com validade de dois anos. O atestado terá de confirmar que “o estado de saúde geral da pessoa […] avaliado principalmente a partir de seu índice de massa corporal [IMC] lhe permite exercer a atividade de modelo”, como refere o decreto, citado pela Agence France-Presse (AFP). A medida aplica-se às modelos francesas e às que sejam originárias de outros estados-membros da União Europeia, sempre que trabalharem em França.

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Angola Fashion Week | Desfile Gio Rodrigues
Angola Fashion Week | Desfile Gio Rodrigues

O objectivo das novas leis é “evitar a promoção de ideais de beleza inacessíveis” e a “anorexia entre as jovens”, assim como “proteger a saúde de um sector da população particularmente atingido por este risco: as modelos”, explicou o Ministério da Saúde francês, em comunicado à agência de notícias francesa.

Já o responsável por esta iniciativa legislativa, Verán, considera que este é “um combate que finalmente se concretiza. (...) A luta contra a anorexia chique progride”, escreveu o político francês na sua página do Twitter.

Assim, as modelos, além de saudáveis, projectarão uma imagem muito mais plural da beleza, eliminando os habituais cânones restritivos.

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Galia Lahav Foto: Galia Lahav

França como referência

O facto de ter sido a França o país a promulgar esta iniciativa é muito importante, pois como estandarte da moda no mundo, o seu exemplo influenciará certamente todo o planeta.

Mas, ainda assim, não é o único exemplo. Espanha, Itália, Índia e Israel também lançaram leis que procuram uma solução similar aos problemas de saúde das modelos, assim como o Conselho de Designers de Moda da América, que segue o seu próprio caminho para evitar estes problemas.

Retoques controlados

A lei promulgada em França é, também, acompanhada de uma segunda norma com objectivos semelhantes: as fotografias retocadas com Photoshop ou outros programas de edição que alterem as silhuetas deverão incluir a indicação "imagem retocada". Com esta nova regra põe-se fim ao uso indiscriminado - e, em determinadas situações, desautorizado - dos retoques nas fotografias de moda. Muitos modelos e artistas já denunciaram nos meios de comunicação e redes sociais a desmedida transformação dos seus corpos com técnicas de design, muitas vezes sem o seu consentimento.

Esta medida entra em vigor a partir de dia 1 de Outubro e abrange as imagens que forem publicadas na imprensa, em cartazes e outdoors, catálogos e folhetos.

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Uma fotografia da supermodelo (e ainda lindíssima!) Cindy Crawford que deu que falar em 2015 por causa dos alegados retoques no Photoshop | Foto via Pinterest

Punições

Evidentemente, que o incumprimento de qualquer lei é punida - e neste caso não será diferente! Se as fotografias de moda não se regerem por esta nova lei, a multa poderá ir até aos 37 500 euros. Por outro lado, a contratação dos modelos que não cumpram com as condições de saúde estabelecidas podem incorrer numa multa até aos 75 000 euros, sendo possível ser aplicada uma pena de prisão de até seis meses. Com a saúde e a imagem não se brinca!

Famosas e figuras públicas vítimas de preconceitos

Opinar, toda a gente opina, mas nem as pessoas, nem os meios de comunicação têm em consideração os dano e impacto que as suas palavras podem causar.

Após ter sido rotulada como anoréctica, Sarah Hyland, uma das protagonistas da série Uma Família Muito Moderna, veio esclarecer através das redes sociais que a sua perda de massa muscular se deve a problemas de saúde e nada tem a ver com o cânone de mulher magra como o ideal de beleza.

https://twitter.com/Sarah_Hyland/status/867476483505176576

Também Lena Dunham - que foi elogiada por uns e criticada por outros pela sua recente perda de peso - explicou que a sua magreza não foi uma conquista sua, mas sim fruto de uma doença conhecida como endometriose.

Em prol da beleza natural estão Cara Delevingne, que falou da sua importância, e Ashley Graham, a modelo plus size norte-americana que se orgulha de mostrar ao mundo as suas voluptuosas curvas.

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Ashley Graham | Foto via Pinterest

A moda está a mudar e com ela os estereótipos, muitos dos quais já se começam a enterrar. Sim, porque a moda e a beleza têm de ser plurais e livres, e as modelos devem lidar com essa transformação para dar o exemplo. Parece que se está no bom caminho...não acha?

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